sábado, 9 de julho de 2011

Meninas, Meninos, e o RPG

Esses últimos dias viu um certo embate sobre o assunto do papel das meninas no mundo RPGístico. O grosso dos confrontos se deu nessa postagem do World RPG Fest, que nada mais é que uma re-postagem desta matéria da INapta, continuação desta outra matéria. Por fim, essa discussão gerou uma resposta no Pensotopia.

As conclusões do Danielfo no Pensotopia são interessantes, no entanto sou obrigado a discordar de alguns dos pontos de vista dele. Há de se fazer uma diferença entre “constatação” e “conclusão”. A diferença crucial entre coleta de dados e análise de dados.

Eu acho que o primeiro problema é que há uma certa generalização entre os "gostos rpgisticos" de meninos e meninas. Por exemplo, eu conheci meninas que foram atraídas ao RPG justamente pelo aspecto "matar-pilhar-destruir" do jogo (ou seja, da violência intrínseca a boa parte das aventuras) e cuja parte que menos gostavam no jogo era a interpretação mais aprofundada de papéis. Ao mesmo tempo, eu sou homem e se o jogo ficar só no “matar-pilhar-destruir” e não desenrolar uma boa história, eu caio fora. Eu jogo RPG pela história e pela interação dos personagens com o cenário.

É basicamente a mesma divisão existente entre fãs de jogos de videogame; há os que gostam de jogos de ação violentos e os que preferem jogos do tipo “puzzle”.

E isso não tem nada a ver com o tipo (sistema/título) de RPG que se prefere jogar. Meu RPG predileto é e sempre será D&D. E eu não gosto do "combate pelo combate" como foco principal no RPG. Aí alguém poderia pensar: “Esse cara adoraria Vampiro: A Máscara!”. Pois é, eu não curto Vampiro, justamente porque em geral o tipo de história proposta pelo jogo carece do que mais me atrai na proposta do D&D: a aventura!

Resumindo, o que atrai um jogador ao RPG (seja menino ou menina)? Violência ou História? Na verdade, talvez nenhum nem outro, mas sim um sub-tipo de um destes dois, ou talvez um equilibrio destes dois. No meu caso, uma boa história de aventura com doses de combates e violência que tenham seu sentido dentro desta.

Além disso, discordo também da conclusão de que RPG é um jogo de meninos. Qual a origem dessa conclusão? Porque há mais meninos jogando? Ou porque foi criado por homens? Ah, sim, é porque existe uma convenção social que diz isso.

Aí entramos em um problema de semântica. O que é o “jogo” do qual está se falando? É a prática social do jogar RPG, ou as definições das regras básicas que levam algo a ser classificado como RPG (e aí entramos em um outro problema sério, que é a definição de “o que é RPG”)?

Eu posso aceitar que se há um maior número de meninos jogando RPG (e esse número for realmente expressivo em relação ao de meninas), é justo dizer que RPG enquanto prática social é um jogo de meninos.

Entretanto, considerando apenas o jogo enquanto conjunto de “regras” (na verdade, aqui é mais um conjunto de definições básicas) independente de quem as está praticando no momento, a simples constatação de que há mais meninos praticando não é suficiente para classificar o RPG como um jogo de meninos. Deve-se analisar se há algo no que define um jogo como sendo um RPG que é mais apropriado por este ou aquele gênero, e só então pode-se chegar a uma conclusão.

Então, minha pergunta seria: RPG é um jogo de meninos, analisando por qual aspecto? Enquanto prática social, devido ao game design, ou algum outro?

Enfim, são duas análises que devem ser feitas separadas antes de serem sintetizadas em um grande panorama do RPG. Fora isso, até o momento tem sido tudo feito no “achismo”. Não há coleta de dados real sobre nenhuma das duas perguntas. Onde estão os dados de que meninos e meninas gostam mais deste ou daquele aspecto do jogo? E mesmo dizer que há mais meninos que meninas jogando é algo baseado apenas em impressões pessoais, e não em dados reais. Ao menos por enquanto.

Por isso, por enquanto tudo o que eu posso fazer é ficar com as constatações da INapta em sua primeira postagem no Meio-Elfo sobre o assunto, sobre o porque as meninas não jogam RPG com certos grupos.

3 comentários:

  1. Não tem jogo que vá pra frente com grupo ruim e mestre preguiçoso...

    A única coisa que eu enxergo nesses posts, comentários sobre o assunto, vindo da 'homarada', é ou que as meninas são tão burras que vc tem q usar um sistema para crianças de 3++ anos que qqr imbecil pode entender, ou fazer um história hiper melosa com casamento no final igual novela, porque mulher só entende disso.. novela.

    Segundo toda a 'lógica' tem algo muito errado em gostar mais da históra do que das regras de combate, e como pra maioria RPG só se trata disso mesmo, O COMBATE, o RPG não é coisa pra menina a menos que tenha um esforço sobre-humano do mestre CRIANDO uma história (Afinal essa não é função dele e do Role Play não é?).

    Enfim, como infelizmente não dá pra colocar qqr um pra jogar Aventura de Natal em Ravenloft o RPG continua sendo um jogo de 'menino' e não de Homens e Mulheres, que gostam de qqr coisa contanto que tenha qualidade.

    PS: Claro que existem inúmeros homens que jogam e 'respeitam a inteligencia' das meninas por ai, e espero que esse número só aumente, mas infelizmente ESSES se manifestam muito menos que os outros...

    (Nossa, me senti tão relapsa agora, nem tinha visto esse post no sábado... =| )

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  2. Conversando com um colega, bem mais velho do que eu, ele falou que tinham o mesmo problema com o xadrêz. Não havia mulheres jogando, mesmo sendo um jogo onde não há nenhuma vantagem para os homens.

    Este é o enfoque q muita gente não entendeu sobre ter dito que RPG é um Jogo de Menino. Número apenas, com o futebol, apesar de não haver nada que impeça de qualquer um jogar.

    Eu apenas constatei algo, não conclui nada, pois isso seria afirmar que mulheres não tem capacidade de jogar, o que tamnbém não disse.

    O que está ocorrendo hoje é que as experiências de meninos e meninas na infância talvez estejam ficando mais próximas por conta da eletrônica.

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  3. @Danielfo: Por isso que eu disse que é uma questão de semântica. Você fala do "jogo" enquanto prática social e eu (e muitos outros) encaram o "jogo" enquanto estrutura, "sistema".

    E não é a eletrônica que mudou nada, mas sim paradigmas culturais independentes dela. Hoje estranha-se menos mulher trabalhando fora e homem cuidando dos filhos.

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