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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Afinal, O Que É Um Clérigo? – Parte II

Bem, chegamos à conclusão de que os clérigos são uma ordem militar religiosa, ligada à igreja, mas não formada por padres propriamente ditos. Isso não quer dizer que um clérigo não possa vir a tornar-se um padre, largando assim a vida militar, apenas que nem todo padre precisa ser um clérigo, pois fazer parte de uma ordem militar religiosa não é requisito para o sacerdócio.

Mas se clérigo não é sinônimo de padre, será que podemos dizer que todos eles são santos? Tecnicamente, pode-se considerar “santo” todo aquele que é fiel a sua fé e alcança o paraiso. Por esse aspecto, qualquer personagem de qualquer classe poderia tornar-se santo, desde que fosse fiel a sua religião e na morte tivesse sua alma levada ao paraíso de sua divindade. Isso implica não só em independência de classe, mas também numa personagem morta (ou ao menos fora de jogo, já que vive agora no paraíso).

No entanto, quando se fala no termo “santo” é mais provável que se esteja referindo àqueles indivíduos que recebem oficialmente este título, sendo reconhecidos como tal por seus pares e pelas autoridades religiosas. Para a Igreja Católica, para ser canonizado e tornar-se santo oficialmente, um indivíduo deve demonstrar virtudes heróicas ou sofrer o martírio, e ainda realizar milagres. Ainda que não se considere os aspectos cristãos de santidade, é unânime que para atingir a santidade um indivíduo precisa demonstrar-se um modelo exemplar de espiritualidade e possuir uma relação especial e reveladora com o sagrado.

Voltando ao D&D, em várias passagens das diversas edições é citado a possibilidade de um clérigo mudar de alinhamento, e até mesmo trocar sua divindade de devoção. No OD&D, inclusive, é citado claramente que o clérigo deve escolher entre Ordem ou Caos antes de atingir o nível de Patriarca (8º nível), assim sendo obrigado a mudar de alinhamento caso seja Neutro.

Se o clérigo tem a opção de trocar de alinhamento moral e ético, e até mesmo abandonar sua divindade original e passar a adorar outra, mantendo (ou readquirindo) suas habilidades de classe, pode-se entender que não é necessário ser realmente exemplar para ser um clérigo. Um clérigo precisa seguir os desígnios de sua divindade, mas não é preso a um código rígido (cumprir os dogmas da fé é suficiente) nem precisa demonstrar virtudes além das esperadas de um bom seguidor da divindade. Nesse sentido, o paladino é muito mais santo do que o clérigo.

Ainda no que diz respeito a santos, as edições mais antigas do D&D não tocam muito no assunto, deixando meio nebuloso o que poderia ser considerado um “santo” pelos parâmetros do jogo. No entanto, no periódico The Strategic Review nº 6, Gary Gygax escreveu um artigo intitulado "The Meaning of Law and Chaos in Dungeons & Dragons and their Relationships to Good and Evil", no qual constava o seguinte gráfico:

Nesse gráfico é possível ver um esboço do que viria a ser os Planos Superiores e Inferiores do AD&D, e também uma menção a saint, como um exemplo de criatura no extremo bom e ordeiro do gráfico. Considerando que aqui o santo aparece comparado a criaturas bem conhecidas do D&D, como demônios (demon) e diabos (devil), podemos extrapolar que o santo no Dungeons & Dragons seria na verdade um tipo de criatura específico. Curiosamente, essa visão é reforçada pela forma como o D&D 3.5 apresenta o santo no livro Book of Exalted Deeds, um template adquirido (e que requer comportamento exemplar para ser mantido) que não só confere habilidades especificas a uma personagem, como também altera o tipo de criatura para outsider.

A informação do gráfico também restringe a santidade a personagens bons e ordeiros (lawfull good), e aos Planos Superiores dessa mesma natureza, ao contrário dos clérigos, que podem ser de todos os alinhamentos e ligados a quaisquer divindades.

Mas ainda resta a questão dos milagres. Bem, é possível atestar que as magias divinas seriam milagres (e de certa forma o são), mas em um mundo onde a magia é realidade não é plausível considerar milagroso quaisquer efeitos mágicos só por serem realizados por um indivíduo religioso. Talvez as magias divinas de nível mais alto (como a própria magia Miracle) possam, essas sim, serem consideradas efeitos milagrosos.

Com tudo isso, dá pra afirmar quase com certeza de que pelo D&D como escrito, clérigos também não são santos, apesar de alguns poderem sim atingir a santidade. Clérigos são membros de uma ordem militar religiosa e não precisam ser padres nem santos (apesar de poderem ser ambos). Eles precisam seguir os dogmas de sua fé e respeitar os designios de sua divindade, mas nenhum tipo de comportamento além do esperado de um fiel (martírio, perfeição de comportamento, etc) ou conexão especial com a divindade é exigido. Possivelmente seja necessária uma dedicação quase em tempo integral e um grande comprometimento com a ética de sua fé para que um clérigo mantenha suas habilidades, mas até aí não é muito diferente de uma profissão complexa como médico, por exemplo, onde dedicação e aperfeiçoamento constante são necessários, e um grave deslize ético pode custar a licensa profissional.

Claro que, no fim das contas, tudo isso não faz a menor diferença, e o que conta é aquilo que o mestre decidir na sua campanha. Mas serve para ver como muitos dos estereótipos pré-concebidos que nós jogadores temos sobre várias coisas no D&D na verdade não se originam no que está escrito nos livros.

5 comentários:

  1. Ola,

    Gostei do topico, na sual opiniao qual a diferença entre o paladino e o clegido..

    Abraco

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  2. @jonnycircus: Como eu expliquei num comentário da primeira parte dessa postagem, Paladinos são mais próximos do arquétipo do cavaleiro andante mítico, enquanto Clérigos dos Templários.

    Não há nada na classe Paladino que diga que eles são ligados a alguma ordem religiosa, ou mesmo que pertençam a alguma ordem de cavalaria ou qualquer outra instituição similar (o que também não quer dizer que não possam ser). Paladinos são sim crentes e fiéis a sua religião, mas por opção pura e simples e não por vínculo institucional.

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  3. Muito bom os dois postes gostei !

    Uma explicação sobre paladinos e clérigos, nós dos dragões do Sol Negor gostamos de pensar assim:

    -Clerigos escolhem seguir os deuses ou o deus em fim.

    - Paladinos o deus escolhe ele.

    Mais ou menos assim. Não que o paladino não possa treinar desde cedo nem que ele possa assumir depois mas a explicação é essa e para manter os poderes ele segue os dogmas do deus. Por ai. Já o clérigo escolhe seguir o deus louvando e clericando.
    Abraços

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  4. @Dragões do Sol Negro: Penso maisou menos por aí mesmo. O Paladino é um guerreiro que, sendo crente e fiel a sua religião pessoal, é escolhido pelas divindades e recebe poderes sagrados.
    Já o clérigo é alguém que escolhe e estuda/treina para se tornar clérigo.

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  5. tbm uso a versao paladino como cavaleiro andante tipo cavaleiros da tavala redonda, gosto muito da versao do aracana evolded do moont cook o Champion é muito parecido com paladino mas ganha poderes pela causa q segue (liberdade, vida, conhecimento...)

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