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sábado, 14 de maio de 2011

Magias no D&D, Parte 3: Magias Como Fórmulas

The Alchemist - Larry ElmoreComo eu já disse mais de uma vez, no D&D as magias são fórmulas. Isso quer dizer que cada magia é como uma receita pronta, que quando seguida à risca, resulta no efeito desejado.

Nos comentários da minha primeira postagem sobre magias, Rafael Kain comentou que:

“Eu não assimilo a ideia de que um mago de 20º nivel que conheça Mão Flamejantes não compreenda o funcionamento do fogo muito melhor que um mago de 3º nivel, sendo impossivel Criar, Aumentar, Moldar o fogo.”

É um ponto interessante, inclusive com bons fundamentos em outros sistemas. Mas vamos ver até onde essa argumentação faz sentido dentro da metafísica mágica do D&D.

Fazendo uma comparação simples, imagine que você conhece a receita “Fazer Limonada”. É uma receita simples, que quando seguida à risca, permite que você produza uma certa quantidade de limonada para beber que não tem gosto de água suja.

Digamos agora que você passe 50 anos de sua vida fazendo limonada todos os dias, e que apesar de ter aprendido a cozinhar muitas coisas, nunca tenha se interessado em aprender nenhuma outra receita com limão. Após esses 50 anos, você ainda é capaz de fazer limonada, e até muito melhor do que quando aprendeu, apesar de que limonada é uma receita bem limitada, e logo não é possível inovar muito com ela (sim, infelizmente há um limite de quão boa sua limonada pode ficar, e não importa o que você faça, ela nunca vai se parecer com whisky 12 anos).

AlchemistNo entanto, 50 anos de prática em “Fazer Limonada” não lhe dá nenhum conhecimento extra com limões. Você ainda é completamente incapaz de fazer mousse de limão, torta de limão, e não tem a mínima idéia de qual é a forma adequada de plantar e cuidar de um limoeiro. O nome científico da espécie de planta que produz o limão então, nem pensar. Dependendo do seu nível de interesse em limões, possivelmente você nem saiba que existe mais de um tipo de limão!

Isso faz de você um mal fazedor de limonadas? Claro que não. Afinal, talvez tudo o que você sempre quis desde o princípio foi apenas saber fazer limonada pra matar sua sede. Nada mais.

A lógica do D&D com as magias é mais ou menos essa. Não há pré-requisito de conhecer uma magia para se aprender outra. Logo, para conjurar Mãos Flamejantes, ou Bola de Fogo, um mago só precisa aprender essas fórmulas, não tendo nenhuma necessidade que ele aprenda Criar Fogo, Aumentar Fogo, ou Moldar Fogo. Essa é a abordagem do GURPS, por exemplo, mas não do D&D.

Ou seja, no D&D a única coisa que determina o que um mago tem ou não de saber fazer conforme avança de nível, é seu interesse em aprender ou não determinada “receita”. O mago não tem nenhuma obrigação de aprender fórmulas para as quais ele não vê utilidade. Como o exemplo da limonada acima mostra, ainda que a abordagem de “magias pré-requisito” seja interessante e tenha algum fundamento, também não há nada de irreal na abordagem do Dungeons & Dragons.

Afinal, eu sei fazer bolo de chocolate a muito tempo, mas não tenho a menor idéia de como se faz a calda.

9 comentários:

  1. Excelente assimilação, até de certa forma elucida a magia de D&D, e reforça a questão do gosto... Minha birra é mais quanto efeito/velocidade mesmo, então sem muito o que debater aqui...

    Mas conhece o Fantasy Craft? é um OGL de d20 generico que possui um esquema de magia muito bacana, ele é mais resumido e agrupado, tipo talentyos vc compra magia do fogo, ai em uns niveis determinados vc ganha tipo nv 1 - maos flamejantes, nv 5 - bola de fogo e assim vai, sendo que se pode ter varios talentos deste, porém pode se usar cada magia 1 v/dia se não me engano.

    Isso é bacana pq tem escolas de D&D que são bem fundamentadas (anjuração defende evocação ataca) mas tem umas que fazem tudo (conjuração e transmutação)... sempre as acho estranhas, nem sei pq num juntaram ambas e deram o nome de "outras"

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  2. Sua matéria está ótima, mas gostaria de fazer um adendo: Talentos Metamágicos.

    Uma pessoa capaz de "Fazer Limonada" realmente não recebe nenhum conhecimento adicional sobre limões, mas com os Talentos corretos, ele pode Substituir Fruta (Laranja), Aumentar Limonada, Acelerar Limonada, etc.

    É para isso que existem os Talentos Metamágicos: se "Bola de Fogo" é a receita, então os Talentos Substituição de Energia (Frio), Aumentar Magia, Acelerar Magia, etc. seriam formas de variar a receita.

    Meu exemplo foi meio tosco, mas é como você escreveu em sua matéria, tratam-se de jogos diferentes com abordagens diferentes.

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  3. Eu amo magos desde que comecei a jogar RPG. Sempre admirei as magias como fórmulas prontas, e não como uma massinha de modelar. O que eu gostaria de ver era a abordagem sobre as magias memorizadas e conhecidas, e o funcionamento dessa diferença no "mundo do jogo".

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  4. @Blog do Falcão: Não conheço o Fantasy Craft não, vou procurar e dar uma olhada. Mas pelo que você falou, é meio parecido com o sistema de Rolemaster, onde você vai aprendendo "spell lists", que são listas de magias com temática similar.

    Quanto às escolas, elas sãoapenas uma forma de classificar as magias, e não uma divisão por "utilidades". Vou tentar falar sobre isso melhor outra hora.

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  5. @O Peregrino: Pretendo em breve falar do sistema vanciano, não se preocupe.

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  6. @Demente: Exatamente. Cada jogo (e cada edição do D&D) tem suas peculiaridades, e suas visões particulares (ou suas pequenas diferenças, no caso das edições do D&D) de como a magia funciona no mundo.

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  7. Vixe, cheguei atrasado na discussão, mas só queria falar o modo que vejo a questão, não muito diferente do seu:

    Quando penso na Magia Old School imagino na distinção de mago a ascensão: magia iluminada e a limitada. O mago de DeD é um mago limitado (sem preconceitos) pq conhece as técnicas e procedimentos para conseguir o efeito, mas desconhece da ciência mágica que sistematizaria e ampliaria aquela técnica.

    Como um xamã que receita uma erva, receitada pela tradição, que cura a doença, mas desconhece as substâncias e efeitos orgânicos por trás da operação. Ou um engenheiro medieval, que constroi belas catedrais, graças ao saber tradicional e empírico acumulado ao longo dos séculos, mas que desconhece a força da gravidade, de empuxo etc, que a Física estuda.

    O mago Old School seria o herdeiro de uma técnica antiga, uma fórmula pronta, descoberta empiricamente pelo saber acumulado de eras ou através de uma ciência mágica avançada (magia iluminada), a muito desaparecida, do qual só restou vestígios: as fórmulas de magia limitada.

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