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terça-feira, 3 de julho de 2012

O Cenário Implícito do D&D

Explorando o subterrâneo Os livros básicos do D&D são em geral genéricos o suficiente para que o mestre utilize aquelas regras para desenvolver qualquer tipo de cenário que desejar. Normalmente também não há nenhuma menção específica a um cenário no jogo, ao menos até o D&D 3.0, a partir do qual há menções explícitas de elementos do cenário de Greyhawk, como no caso das divindades. A única exceção anterior provavelmente sendo o Rules Cyclopedia, que faz menções a Mystara e Hollow World.

Independente disso, o Dungeons & Dragons (e por consequência o AD&D), como foi concebido, sempre possuiu um “cenário implícito” em suas regras, por mais genéricas que elas sejam. No entanto, esse cenário em questão não é no sentido de um mundo com características geográficas específicas, regiões com nomes pré-determinados, história e NPCs descritos. Trata-se de um conjunto de elementos comuns que sempre existirá em qualquer cenário que assuma todas as informações dos livros básicos de sua edição preferida do D&D como verdade.

A um tempo atrás eu citei a existência desse “cenário” no cerne das regras do D&D, mas como seria esse cenário implícito? Bem, dos vários materiais básicos do D&D e ditos genéricos, podemos tirar uma imensidão de conclusões sobre como originalmente deveria ser um mundo de jogo de D&D.

lost-city-coloredPrimeiro e mais importante, como eu já comentei e provei antes, é assumido que é um mundo humanocêntrico, com os humanos não só sendo a maioria dominante como também a medida e o padrão para todas as coisas.

Fora isso, os monstros e raças semi-humanas e não-humanas são descritos com cultura e comportamento pré-determinados, e não como seres “genéricos” a serem lapidados para serem encaixados em outros cenários.

Há também a questão dos magos e da magia, que ainda que relativamente “comuns”, são claramente temidos e evitados. Isso se evidencia no fato de que na descrição de quase todas as criaturas inteligentes consta que atacam sempre os magos primeiro, com medo do que podem fazer. Além disso, magos poderosos costumam ser figuras solitárias e cercadas de mistérios, sendo evitados até mesmo pelos governantes de onde residem.

É compreendido também que o cenário em questão é formado não só pelo mundo físico, mas também por uma miríade de “planos de existência” que interagem entre si das mais diversas formas. Esses planos são povoados por criaturas, algumas das quais muito poderosas, que vez ou outra possuem acesso ao mundo físico.

Um outro aspecto interessante do cenário implícito é que ele se trata de uma espécie de “mundo pós apocalíptico”. Em algumas edições é citado que as grandes quantidades de tesouros encontradas pelos aventureiros são remanescentes de grandes impérios antigos e mais evoluídos, que caíram a um longo tempo atrás. Similar à Era Hiboriana, à Terra Média ou à Dying Earth, três de suas fontes de inspiração, se trataria de uma sociedade retornando de seu ponto de maior declínio, onde a época das maravilhas já se foi. As magias foram criadas ou descobertas por poderosos feiticeiros e magos do passado, assim como foram estes os criadores dos itens mágicos e artefatos em tempos imemoriais, assim como de muitas das criaturas bizarras que povoam este perigoso mundo.

cavexxE obviamente, outra evidência clara desse aspecto “pós-apocalíptico”, é que o mundo é polvilhado de ruínas antigas, algumas enormes, e muitas sobrepostas em diversos níveis umas sobre as outras, que são exploradas por aventureiros corajosos e gananciosos, em busca dos incríveis tesouros que esses lugares podem esconder. Locais esses, que nós tanto amamos e tão carinhosamente chamamos de “dungeons”.

Há com certeza muitos outros aspectos deste cenário implícito que poderíamos listar, e que por si só definem muito do mundo de jogo, e tudo isso sem a necessidade de um “cenário pronto”, com definições geográficas ou históricas apuradas.

5 comentários:

  1. Muito bacana, hein, Igor?

    É daí que tiramos aquelas velhas perguntas por causa do status quo da maioria dos cenários. Eles bebem todos de inspirações parecidas, de modo que outros cenários ditos inovadores se inspiram em outros gêneros de histórias (Eberron, por exemplo - e mesmo esse bebe de elementos comuns).

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  2. Muito show. Tinha essa ideia mas não sabia como organizar em minha mente.

    É como o Dan falou, todos bebem da mesma água, mas acho que, de forma genérica, isso me ajudou a jogar sem precisar ler infindáveis livros suplementos sobre cenários.

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  3. Interessantíssimo, nunca havia percebido que havia um cenário tão implicitamente ligado as regras do D&D.

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  4. as caixas antigas de D&D, como a Expert, vinha pequenos mapas mostrando lugares e lá podia-se ler "specularum" e "threshold" - era sim um mapa de do ducado de karameikos em mystara. Mas é verdade que nenhum nome de mundo aparecia.

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    1. Faz todo o sentido, já que essas caixas do BD&D são o que originou a compilação do Rules Cyclopedia.

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