Jogos de fantasia geralmente tem alguma magia ou efeito para encolher as criaturas, efeitos estes que quando utilizados contra os personagens dos jogadores, apesar de perigosos, não passam muito longe de ser apenas um inconveniente momentâneo.
Mas, e se ao invés de tratar o encolhimento dos personagens apenas como um mero inconveniente, você o utilizasse como um gancho para aventuras com um clima e temática diferentes?
A ideia é usar o evento da mudança de tamanho dos personagens para criar uma reviravolta na campanha, uma espécie de side quest da qual eles não podem fugir, ao mesmo tempo concedendo aos jogadores uma folga da trama principal e a possibilidade de jogar algo um pouco diferente.
Para ser utilizado desta forma, o encolhimento dos personagens precisa ter uma natureza menos efêmera, isto é, possuir uma duração de tempo maior, talvez até mesmo necessitando a realização de algum tipo de ação especial para ser revertido - seja encontrar algum item mágico, realizar um ritual específico, chegar a um local místico, derrotar um inimigo que detém o segredo para a reversão de tamanho, ou então completar uma quest para alguém que possua os meios de trazê-los de volta ao normal.
Abaixo apresento três possibilidades para tornar a mudança de tamanho dos personagens em algo mais interessante, cuja diferença crucial entre si reside em quão pequenos os personagens se tornaram.
Terra de Gigantes: Neste cenário, os personagens são encolhidos até o tamanho de brinquedos, qualquer coisa entre 15cm e 6cm (ou quem sabe, 3cm, e assim usar as miniaturas de RPG como representações dos personagens em escala 1:1 e dando aos jogadores uma ideia exata de coo seus personagens são capazes de interagir com o mundo à sua volta).
No melhor estilo “o pequeno polegar”, coisas simples e corriqueiras passam a ser grandes ameaças para os aventureiros. Degraus tornam-se obstáculos difíceis de transpor, riachos tornam-se mares intransponíveis, e criaturas antes inofensivas revertem-se em terrores capazes de paralisar de medo até o mais bravo dos homens.
O mestre pode utilizar estatísticas de animais gigantes, incluindo insetos e aracnídeos, para representar exemplares comuns das espécies em relação ao novo tamanho das personagens. Da mesma forma, as estatísticas de outros monstros podem ser utilizadas também: um tigre gigante pode servir para representar aquele gatinho doméstico que ninguém nunca deu muita importância antes, e gigantes são perfeitos para representar os humanos de tamanho normal.
Pequenos membros do povo-fada, como pixies, nixies e sprites podem se mostrar aliados ou ameças de uma forma que eles nunca encararam antes, já que agora eles estão praticamente do mesmo tamanho.
O clássico episódio de Caverna do Dragão em que as crianças entram dentro do castelo de um gigante, e o filme Querida Encolhi as Crianças são grandes inspirações para uma aventura neste estilo.
Vida de Inseto: Aqui as coisas começam a ficar ainda mais interessantes, quando os personagens são diminuídas até o tamanho das mais pequenas formigas. O mundo dos homens fica para trás, e o que eles descobrem é algo totalmente novo, um mundo escondido sob seus pés.
Eles ainda não estão pequenos os suficiente para o mundo à sua volta tornar-se completamente alienígena, mas já é o necessário para gerar uma mudança drástica de terreno para a aventura. Um gramado comum subitamente mostra-se uma imensa e selvagem selva tropical, e as ruas calçadas de uma cidade transformam-se em um labirinto de corredores estreitos, escuros e tortuosos enquanto os personagens se aventuram entre as frestas dos paralelepípedos.
Insetos e aracnídeos gigantes e colossais são perfeitos para serem utilizados como oponentes nesta situação, assim como oozes de todos os tipos podem representar micro-organismos fantásticos. Fungos, principalmente bolores, e criaturas-planta também podem ser usados livremente sem muita alteração. E o mestre pode utilizar colossos para representar animais comuns, sem precisar se preocupar em ter cidades inteiras de seu cenário de campanha varridas do mapa.
Nesta condição os personagens podem também descobrir toda uma nova dinâmica social, um palco tomado por criaturas que até então eles não faziam ideia existir. Na melhor tradição de filmes como Arthur e os Minimoys ou Reino Escondido, ao tornarem-se minúsculos, os personagens podem descobrir a existência de toda uma comunidade, e porque não, toda uma civilização, formada por criaturas tão pequenas que não podem ser vistas a olho nu. E obviamente, eles podem ser ver envolvidos nas tramas e conspirações deste povo minúsculo.
Criaturas como os formian e os abeil são excelentes ameaças a serem usadas nesta situação, com a vantagem do mestre não precisar se preocupar em como a existência de uma colônia destas criaturas afeta as relações dos povos no mundo de tamanho normal.
O Microverso: Finalmente, é nesse estágio que as possibilidades verdadeiramente abrem-se de forma infinita na frente do mestre. Ao ser diminuido a um nível microscópico, talvez até mesmo sub-atômico, os personagens descobrem que uma barreira na realidade é quebrada e eles passam a ter acesso a um outro plano de existência, um universo paralelo conhecido apenas como o Microverso.
Mas o que exatamente é o Microverso? Bem, falando em termos de D&D, é um plano de existência que pode ser acessado fisicamente pro qualquer um que tenha seu tamanho diminuido a um nível pequeno o suficiente. Talvez, esta seja até mesmo a única forma possível de se acessar o Microverso, que estaria além do alcance de portais e magias comuns de viagem planar.
Com o que se parece o Microverso já é uma outra história. O Microverso pode ser como o mestre quiser que seja; é a oportunidade de jogar os personagens dos jogadores em uma experiência completamente diferente do que a campanha vem proporcionando até então.
Ele pode ser uma distorção bizarra do cenário de campanha convencional, pode ser um outro cenário de campanha que você sempre quis testar mas os jogadores nunca se animaram, ou pode até mesmo ter um gênero completamente diferente.
Numa campanha de Old Dragon, por exemplo, o Microverso pode jogar os personagens em Space Dragon, numa sub-campanha estilo space opera. Ou então o contrário, o Microverso de uma campanha de Space Dragon pode ser uma sub-campanha de Old Dragon, já que o conceito de um universo sub-atômico encaixa-se perfeitamente na ficção científica pulp do dragão espacial.
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Esta é uma postagem participante do Rodeio de Blogs, criado pelo Rafael Beltrame do Moostache para assumir o vácuo deixado pelaantiga Ciranda de blogs. O tema deste mês era “vida microscópíca”.