segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Magos e a Busca Pela Imortalidade

Um dos temas mais recorrentes nas obras de fantasia é o mago que vive para sempre. De Merlin aos planeswalkers de Magic: The Gathering, diversos são os casos de magos de vida extremamente longa, e variados também são os meios para se atingir isso.

Alguns conseguem a façanha por não serem exatamente humanos, como Merlin (um cambion, ou meio-demônio) ou Gandalf (um Maia), mas outros atingem este estado através de algum ritual ou conhecimento secreto.

Com isso em mente, não seria muito absurdo extrapolar que, generalizando, o objetivo final de todo praticante das artes arcanas é descobrir o segredo da imortalidade. E é daí que parte minha ideia.

Existiriam alguns rituais, todos eles conhecidos por poucos e extremamente bem guardados, que se devidamente realizados, permitiriam a um mago viver para sempre. Alguns destes rituais inclusive, ainda que mágicos em sua natureza, poderiam até mesmo ser utilizados por não-magos.

Existem também modos paliativos, como poções de rejuvenecimento (que apenas devolve alguns anos de vida), a magia Clone (que produz uma cópia com as memórias e conhecimentos apénas até o momento em que foi copiado), a magia Reencarnação (que não permite escolher o corpo, e não funciona após morte por velhice), ou tornar-se um morto-vivo comum (cuja maioria ou é não inteligente, ou depende do interesse de outras pessoas para realizar o processo como é o caso de múmias, ou é um servo de quem o transformou).

Os rituais, por outro lado, seriam mais permanentes e mais garantidos. No entanto, a maioria dos rituais não é infalível, existindo meios de destruir o mago, ainda que isso seja difícil, e muitos trazem consigo uma série de efeitos colaterias que nem todos estão dispostos a sofrer.

Alguns exemplos destes rituais seriam os seguintes:

Lich – Talvez o mais conhecido e clássico dos caminhos que os magos tomam para a imortalidade. Vários sã os tipos de lich, mas praticamente todos envolvem a criação de um filactério e de uma poderosa poção que pode matar definitivamente o mago ao invés de torná-lo um lich. Aqueles que não são poderosos os suficiente para virar um lich podem tornar-se um vassalich. Da mesma forma, lichs muito antigos podem tornar-se demilichs.

Carniçal – O mago pratica canibalismo em troca de imortalidade... e corrupção física imutável. Nada que se faça para mudar a aparência de volta ao normal funciona por muito tempo.

Pequenas vidas - Ingerir seres ainda vivos confere o tempo de vida restante a eles à vida do mago. Alimentando as criaturas com outros seres vivos antes de ingerí-los possui uma espécie de efeito em cascata, potencializando o ritual.

Invertendo a cadeia alimentar – Praticando este ritual, o mago ao morrer automaticamente reencarna como um camundongo, que precisa matar um rato para possuir o corpo deste, que precisa matar um gato, que precisa matar um lobo, que precisa matar uma pantera, que precisa matar um homem para finalmente voltar a ter um corpo humano.

Clone dimensional – Diferente da magia Clone, o procedimento traz seu "eu" de uma linha alternativa de tempo para substituir o da linha de tempo “normal”. Uma espécie de processo automático, mas que tem chance de dar muito errado.

Troca de corpo – Ao morrer, o espírito do mago possui um corpo próximo, desde que exista um ao alcance. Rola-se novos atributos físicos, mas mantém-se os mentais.

Banhar-se em sangue - Banhar-se no sangue, preferencialmente de jovens. O sangue tem de estar limpo, isso é, as vítimas não podem ter sido envenenados ou estarem doentes. É necessário 1d4+1 vítimas para o ritual. O tempo até o próximo banho de snague é de (100 - soma da idade das vítimas) em dias. Dizem que há chance de adquirir características vampíricas ao praticar este ritual.

Objeto de troca – O mago liga sua alma e vida à um objeto (geralmente um retrato, estátua ou boneco de si mesmo) que envelhecerá e sofrerá todos os danos que deveriam ser destinados a ele. O objeto nunca se destruirá naturalmente desta maneira; no entanto qualquer dano realizado no objeto é sofrido pelo mago. É possível que haja versões desse ritual que ligam a vida do mago à de uma criatura imortal (um demônio, gênio, criatura celestial, etc), mas isso traz o inconveniente de ser necessário manter a criatura presa para garantir a imortalidade.

Demônio mecânico – Ritual que permite reparar partes danificadas do próprio corpo e substituir órgãos vitais por artefatos mecânicos. O próprio sangue eventualmente pode acabar precisando ser substituido, normalmente por óleo, água ou areia.

Transplantes – O mago torna-se capaz de repor partes danificadas, doentes ou não-funcionais do próprio corpo com partes de outras criaturas, efetivamente extendendo sua vida para sempre.

Golem vivo – Um método que permite ter a alma tranferida para uma armadura/golem através de rituais que envolvem a construção de um filactério. O mago existirá preso em um selo ou jóia (o filactério) no interior do golem, e só estará verdadeiramente destruído se este for danificado.

Existência fungal - O corpo do mago é contaminado por um fungo que aos poucos vai substituindo os órgãos vitais com cópias construidas de matéria fungal, até que todo o corpo dele seja um simulacro de hifas. Caso todo o corpo seja destruído, dado o devido tempo e condições, um novo corpo crescerá de esporos expelidos pelo antigo corpo.

CancermageAtravés desse ritual, tumores e doenças infectam o corpo do mago, cujas próprias células tornam-se infecciosas. Basicamente, uma forma de regeneração constante e acelerada, que ocorre mesmo sem necessidade. A característica infecciosa permite ao mago viver em outro corpo, caso seu corpo original seja destruído.

Ossos de ouro - A pele do mago torna-se dourada, e ele precisa se alimentar com ouro diariamente (1 PO por nível por refeição, 3 refeições por dia, talvez). Ao morrer, seu corpo instantaneamente se decompõe, deixando à mostra apenas seus ossos feitos de ouro. Se qualquer criatura tocar os ossos, seu corpo é possuído pela alma do mago, e sua pele torna-se dourada. Os ossos são indestrutíveis, e um imenso chamariz para os incautos.

Vampiro - Não o tipo comum, mordido por outro vampiro. Isso tornaria o mago um servo de quem o transformou. O vampirismo adquirido através de um pacto profano torna o mago um morto-vivo livre, poderoso e inteligente.

Vencer a morte – O mago convoca a morte e a desafia. Como desafiada, a morte geralmente escolhe a competição (usualmente xadrez). Se vencer, o mago torna-se imortal, se perder, a morte o leva imediatamente. A morte é um oponente muito dificil de ser vencido, e trapacear é possível, mas ainda mais complicado.

Pacto - Um pacto com uma criatura extraplanar, que confere imortalidade enquanto algum tipo de ritual ou sacrifício for realizado regularmente. Se o ritual em questão por alguma razão não for realizado no momento adequado, a criatura automaticamente vem buscar o mago, condenando sua alma para sempre.

Bruxa - Por alguma razão desconhecida, apenas mulheres são capazes de tornarem-se bruxas, e o processo invariavelmente torna-as malignas. Bruxas parecem viver indefinidamente, enquanto corrompem a própria natureza à sua volta.

Sangue de fada - Uma das formas de viver para sempre é tornar-se um membro do povo-fada. A forma mais comumente conhecida para tal é entrar no mundo das fadas e provar de sua comida; no entanto, ao fazer isso, nunca mais se pode sair daquele mundo. Talvez haja alguma outra maneira, mais complexa, que permita a alguém tornar-se do povo-fada e continuar no mundo dos mortais.

Escolhido dos deuses - Ser escolhido por um deus para tornar-se seu porta-voz no mundo não é coisa fácil, e depende muito da vontade da divindade em questão. Mas e se a divindade da magia não for exatamente uma criatura, mas sim a consciência coletiva da magia, uma mente que misticamente surgiu da teia de energias mágicas que permeia todo o universo? Talvez, nesse caso, seja possível acessar esse poder através de rituais arcanos, e forçar a "deusa da magia" a torná-lo um "escolhido". Magia bruta é capaz de qualquer coisa, inclusive sustentar alguém vivo indefinidamente.

Demiurgo - O Demiurgo é o mago supremo de uma realidade, um ser que além de imortalidade detém também o conhecimento máximo possível sobre a magia e controle total sobre a própria magia do mundo. Portanto, apenas um único Demiurgo pode existir a cada vez. A posição confere poderes que rivalizam com o de divindades menores, e provavelmente também algumas responsabilidades.

Deus ou Semideus – Aquele que provavelmente é o caminho mais difícil a ser trilhado para a imortalidade é atingir a divindade. Há alguns rituais que se pode realizar para se tornar um Poder, ou um verdadeiro Imortal, e envolve a realização de diversos feitos de importância lendária.

A maioria destes rituais, se realizados, automaticamente impedem a realização de qualquer outro com o mesmo fim, exceto talvez tornar-se Escolhido dos Deuses, Demiurgo ou Divindade.

Seria bastante interessante definir os requisitos, métodos e consequências da realização de cada um destes rituais para que os jogadores possam tentá-los se os descobrirem, e é algo que pretendo fazer em algum momento.

Imagino também se é interessante quantificar de algum modo o aprendizado destes rituais, de modo similar ao número de magias que podem ser aprendidas. Isso poderia servir como uma forma de limitar o número de rituais que um mesmo mago pode aprender, e assim também forçar que um personagem tenha de escolher um ou outro caminho de pesquisa. Não estou bem certo quanto a isso, nem em como faria tal coisa.

Gostaria muito de ouvir a opinião de outras pessoas sobre a ideia. Alguma sugestão de outros métodos de atingir a imortalidade? Alguma opinião sobre quantificar, limitar ou categorizar os rituais?

16 comentários:

  1. Cara... Isso daria um excelente suplemento para OD... :D

    Muito interessante a sugestão de que qualquer ritual automaticamente impeça a realização de outro com o mesmo fim, exceto por intervenção divina...

    O personagem encontra o seu limite aí... Não importa se ele conhecer vários rituais, ele só poderá arriscar em um só (e apenas uma única vez)...

    ResponderExcluir
  2. É cara, eu penso por ai tmb.... o objetivo inicial do mago pode nao ser este, mas com o tempo ele enxerga esta possibilidade e com o avanço da idade, as limitações do corpo e a insatisfação com os proprios poderes/conhecimentos, muitos magos acabam obcecados pela busca da imortalidade.

    Agora uma pergunta pra vc q eh Dungeon Master High Level...

    Não existe nenhuma magia que torne o conjurador imortal em D&D/AD&D/OB&D etc ??????

    nem de 10º circulo ou mais ? (se é q existe isso)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha, no D&D 3.0 e 3.5 eu não posso afirmar nada, é bem provável que exista. Eu sei que tem até feat que faz isso.

      Nas edições anteriores do D&D eu não me lembro de nenhuma. Quase todas as magias que lidavam com vida e morte no AD&D eram limitadas pela idade máxima que o personagem podia atingir (lembra que você tinha de rolar isso?). Mas é possível que alguma Quest Spell concedesse imortalidade, mas não sei dizer agora. Tenho de fuçar aqui no meu High Level Campaign!

      Excluir
  3. A magia "Desejo" no AD&D é bem poderosa... Se me lembro bem ela pode duplicar os efeitos de qualquer magia de qualquer círculo, e efeitos ainda maiores também são possíveis, caso o Mestre permitir.

    Mas o Mestre também poderia entender errado, ou o personagem não ter explicado direito os efeitos de desejo... De qualquer forma não é incomum personagens terem seus desejos atendidos exatamente da forma que pediram, e se arrependerem disso.

    O exemplo clássico é o Guerreiro que pede uma espada mágica que mate qualquer criatura com um único toque, e morrer assim que tocar a espada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, teoricamente Desejo pode fazer qualquer coisa, até mesmo conceder imortalidade. Mas usar a magia desejo nunca é garantido, já que é praticamente incentivado que o mestre distorça a ideia por trás do desejo, ao mesmo tempo em que segue o que foi pedido ao pé da letra. Quando você não escolhe a forma de imortalidade, é muito perigoso você acabar como um ser vivo, invulnerável, estático, e completamente incapaz de interagir com o resto da existência. Peça vida eterna para um gênio e ele te bota na mesma hora preso pra sempre dentro da lâmpada mágica!

      Excluir
  4. Adorei o artigo Sartora! Altas idéias doidas pra NPCs

    ResponderExcluir
  5. Curti bastante a ideia!

    Achei bacana não usar a magia desejo para tornar-se imortal diretamente (No AD&D, eu acho, falava algo sobre você ser teletransportado para uma prisão onde o tempo não passa e você é, pra todos os efeitos, imortal)

    ResponderExcluir
  6. Uma das melhores matérias que já li em blogs , parabéns !

    ResponderExcluir
  7. Artigo mais sensacional do ano. Dá altas ideias massas de histórias (tanto de aventuras quanto de NPCs e contos).

    Acho que só procurar esses rituais e entendê-los levaria uma vida, de modo que o mago só conseguiria realizá-los em uma idade mais avançada. Que acham?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Penso exatamente assim, Dan. OS rituais devem ser coisas difíceis e complicadas, lendas sussurradas entre os magos de habilidade intermediária que ouviram histórias de seus mestres, e aqueles que descobriram um desses rituais guardam os segredos a sete chaves, afinal, estes acreditam que não há nada de especial em imortalidade se todos a possuírem.

      Excluir
  8. Uma ótima postagem Igor, sensacional! Parabéns.

    ResponderExcluir
  9. Post maravilhoso cara... Parabéns pela publicação.

    ResponderExcluir
  10. Post maravilhoso cara... Parabéns pela publicação.

    ResponderExcluir
  11. Excelente post,sempre quis participar de um ritual de imortalidade,sei que encontrarei o verdadeiro!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...