A muito que eu vinha pensando em uma postagem sobre a mistura de gêneros de ficção no RPG, e agora que uma postagem recente do Vorpal suscitou o assunto parece ser o momento certo pra isso.
Quando eu comecei a jogar RPG, no início dos anos 1990, eu lembro que a mistura de gêneros não era muito popular nos RPGs. Ou talvez fosse assim apenas entre os RPGistas brasileiros. Não quero dizer com isso que tal coisa não existisse, afinal havia até mesmo o Shadowrun traduzido para o português, mas é certo que tal mistura nunca atingiu grande popularidade. Toda vez que saía algum jogo novo com essa proposta, ou alguma matéria na revista Dragão Brasil que misturasse fantasia e ficção científica, soava como algo estranho e novo, “fora do padrão”.
Isso era mais marcante ainda para o Dungeons & Dragons. A impressão era de que o padrão do D&D sempre foi a fantasia medieval pura e imaculada. Até hoje, a impressão que um novato tem do D&D é de que ele foi concebido para um jogo onde a fantasia medieval reina sem nenhum contato com outros gêneros, e que tal transgressão é um ato de extrema vanguarda. Mas a verdade é que nunca foi assim…
O D&D, em sua primeira versão, retirava inspiração de livros e contos de uma época em que havia pouca diferenciação entre ficção científica, horror e fantasia. Todos esses gêneros eram vistos mais ou menos como variações do mesmo nicho literário. Assim, não era raro ver incursões de temas vistos hoje como de ficção científica (como viagem no tempo, por exemplo), em histórias de fantasia. Por isso, o OD&D foi pensado por seus criadores de forma a incluir esse tipo de mistura de gêneros desde o início. Na lista de monstros da página 22 do Monsters & Treasure, o segundo volume dos livros de regra do OD&D, há uma entrada para “robôs, golens e andróides”.
O próprio Men & Magic, o primeiro volume das regras do OD&D, também traz o seguinte trecho:
"…DUNGEONS and DRAGONS will provide a basically complete, nearly endless campaign of all levels of fantastic-medieval wargame play. Actually, the scope need not be restricted to the medieval; it can stretch from the prehistoric to the imagined future, but such expansion is recommended only at such a time as the possibilities in the medieval aspect have been thoroughly explored."
Traduzindo:
“... DUNGEONS and DRAGONS pode proporcionar uma campanha basicamente completa e quase infinita de todos os níveis de wargame fantástico-medieval. Na verdade, o escopo não precisa ser restrito ao medieval; ele pode ser estendido do pré-histórico ao futuro imaginário, mas tal expansão é recomendada somente quando as possibilidades no aspecto medieval tiverem sido completamente exploradas.”
Ou seja, as regras do primeiro RPG do mundo já previam certa multiplicidade de temas, ou mesmo mescla destes, ainda que não fosse o foco principal.
O cenário da campanha original de Dave Arneson, Blackmoor, era cheio de incursões de ficção científica, como atesta a aventura inclusa no suplemento original: Temple of the Frog. E este não é o único exemplo de aventura oficial do D&D que traz elementos de ficção científica misturada à fantasia; Expedition to the Barrier Peaks, City of the Gods, e Tale of the Comet são todas aventuras que envolvem seres e tecnologia alienígena ou futurista dentro de um cenário de fantasia. O Creature Catalogue, livro de criatura para o BD&D, traz a descrição de um ser chamado Oard: “criaturas humanóides do futuro, viajantes do tempo, cujo poder deriva de tecnologia e ciência mundanas”.
A verdade é que quanto mais procurarmos, mais desse tipo de mistura de gêneros vamos encontrar ao longo da história do Dungeons & Dragons. Muito provavelmente, mais exemplos antigos do que recentes, o que demonstra que esse tipo de coisa não vai contra o “espírito” do D&D, mas sim se aproxima da forma como os homens que idealizaram tudo gostavam de jogar. Então, da próxima vez que seu mestre inserir um elemento futurista em sua campanha, ao invés de torcer o nariz, dê a ele uma chance e divirta-se!
Até mesmo no First Quest havia uma aventura que se passava no espaço... e eu não gostei, rsrsrsrsrs.
ResponderExcluirMystara tem enormes referências Sci-fi escondidas nos suplementos, desde participação no universo de Star Wars a influência de planetas dos macacos.
ResponderExcluirO problema é q nós, os mestres, somos muito mais fundamentalistas dq os desenvolvedores. D&D teve Spelljammer, pouquíssimo popular. Vampiro: A máscara sugere a criação de aventuras com sanguessugas espaciais indo muito além do clima gótico, hj ninguém consegue adaptar Crespúsculo, para vc ver como são radicais (e homofóbicos) os rpgistas.
Pois é, eu nem entrei na questão do Spelljammer, porque ele é uma proposta de jogo completamente única. E pelo que ue me lembre, aquela aventura de Spelljammer que vinha no First Quest era bem fraquinha mesmo (e olha que eu acho esse cenário interessante!)
ResponderExcluir@Danielfo: Crepusculo, pra mim, já é Vampiro: A Máscara, sem tirar nem por. Ao menos a história em si poderia facilmente se encaixar numa aventura de Vampiro (vampiros com moralidades humanas vs. vampiros que aceitam sua bestialidade). A única diferença real do Crepusculo pro Vampiro: A Máscara é o fato dos vampiros não morrerem no sol.
Acontece que isto faz toda a diferença em um jogo de vampiro. O q faz uma vampiro horror pessoal é a necessidade de sangue humano e não andar de dia. Crespúculo muda um pouco paradigma, apesar de ser na mesma temática.
ResponderExcluirO q acho mais incrível é que não houve uma nov onda de jogadores de vampiro, deve ser pq meninas e emos não jogam RPG.
Mas o q quis dizer é me parece q o povo não gosta de fugir do básico e são violentamente preconceituosos contra mudanças.
Elfo, acredito q seja pq RPG esta muito identificado com o grupo "nerd", q agora nao é mais "nerd", e sim "geek".
ResponderExcluircomo eles nao querem abandonar a identidade visual deles, creio q acabam deixando o rpg de lado.
é so uma teoria, claro