quinta-feira, 12 de maio de 2011

MdB: Nossa Concepção Sobre o Que Seria a Magia

Uma sombra negra surge no horizonte. Os bardos contam notícias terríveis das terras distantes. Dizem que a Masmorra de Bronze cerrou suas pesadas portas, e que isso é o prenúncio de dias negros…

Infelizmente sou o portador de más notícias: nosso amigo CR disse que terá de fechar as portas da Masmorra de Bronze por tempo indeterminado. Uma pena, porque esse jovem blog era um dos melhores surgidos recentemente.

Vamos torcer para que o dispositivo mais mortífero criado pelo homem volte à ativa em breve, e enquanto isso, a pedido de seu autor, hospedarei aqui sua excelente matéria sobre magias para que essas palavras não se percam no vácuo do tempo:

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A VERDADE é que essa discussão foi iniciada no grande blog Dungeon Compendium, do nosso querido amigo Igor "Corvus Corax" (visitem!). Contudo, ao invés de apenas dar uma resposta, resolvemos fazer um pequeno post sobre o assunto.
A magia é a coisa mais fantástica num mundo de fantasia medieval. São suas vantagens, utilidades e força que tornam o cenário de um conto ou livro mais atraente aos olhos do público. Só que, no RPG, não há apenas uma forma de utilizar esses benefícios. Nesse hobby, existem vários e vários sistemas que trazem e apontam infinitos métodos de lidar com os encantos e feitiços existentes. Como é o caso do vanciano, usado no D&D; dos pontos de mana, do 3D&T; do destrinchamento de círculos do Daemon etc... Mas qual seria o certo?
Bom, não há exatamente o modo mais correto de se usar a magia num jogo de RPG. Aliás, é errado pensar que somente isso ou aquilo é o que é definitivamente correto nesse hobby de dimensões tão exuberantes e amplas. O correto de verdade, amigos, é aquilo que vale para a mesa de vocês; o que os diverte. E pensando assim, defendemos a seguinte teoria: a magia não seria nada, senão uma força derivada de algo incompreensível, de além das nossas meras expectativas mortais. Algo não-natural, mas passível de manipulação por parte dos humanos (raças inteligentes).
Essa teoria é baseada no que prega Lovecraft e o gênero Sword&Sorcery de Howard. Para H.P. Lovecraft, a “magia” seria apenas uma ramificação de uma ciência — por falta de definição melhor — extremamente complexa que estaria numa escala de compreensão além do concebível pelo homem. E é isso o que vemos, por exemplo, no conto “Os Sonhos na Casa Assombrada”, onde o protagonista Walter Gilman teoriza que, com um conhecimento matemático avançado, o homem poderia até mesmo sair da atmosfera terrestre (sem aparatos tecnológicos, obviamente).
No Sword&Sorcery, por sua vez, vemos que a “magia” é um poder originado dos deuses. Aqui não há uma preocupação maior em explicar como acontece esse processo de “doação” ou o que exatamente seria essa arte fantástica, mas podemos supor que, como a magia de Lovecraft, a feitiçaria howardiana teria sido, preliminarmente, uma “consolação”¹ pelo esforço de tentar entender a não-realidade das formas inimagináveis de além das estrelas; de tentar entender a entropia incompreensível dos Outer Gods.
Nessa parte, poderíamos discorrer amplamente sobre o surgimento da magia na concepção de Howard e Lovecraft, mas essa com certeza seria uma discussão longa, que preferimos deixar para outra matéria. Contudo, podemos dizer que, sim, para essas duas correntes (S&S e lovecraftiana), a magia seria algo usualmente “maligno”, empregado somente por sacerdotes — em adoração aos deuses, tendo concessão de poderes — e feiticeiros — com estudos e pesquisas.
Mas onde entra o D&D nessa história? Bem, nos contos lovecraftianos e howardianos, podemos ver claramente que a magia é algo bem único. Em “Conan, o Bárbaro”, obra de Howard, por exemplo, nunca veríamos um camponês conjurando “Luz” ou um combatente comum usando “Sono” em um cidadão. Lá, somente os mais poderosos pesquisadores e estudiosos do arcanismo seriam capazes desses feitos, e, mesmo assim, estes seriam produzidos e aprendidos com dificuldade. E é aqui é que as coisas se distanciam um pouco do sistema de Jack Vance, o autor do livro Dying Earth, cujo enredo nos apresentou o tipo de magia usada no D&D, a dita magia “vanciana”. No S&S, os feiticeiros e sacerdotes parecem gozar de determinada quantidade de poder que permite, até seu esgotamento, serem lançadas magias e feitiços indeterminadamente. No D&D, isso não acontece. Os magos, que usam o sistema vanciano, simplesmente “esquecem” o encanto após lançá-lo.
Então, mesmo diante dessa incompatibilidade, porque consideramos que o sistema do D&D ainda é o melhor a se encaixar na teoria que defendemos? Simples. Enquanto consideramos que o ato de lançar uma feitiçaria (como uma Bola de Fogo) é uma conseqüência de tentar entender algo maior — como uma força incompreensível extra-universal —, sistemas como Daemon, Ars Magika e Mago: A Ascensão tratam o ato de lançar um encanto como mero efeito arcano.
Como assim? Para nós, conjurar uma bola de fogo é magia, e “magia” não é o “todo”, mas sim apenas um efeito da tentativa de compreender uma das infinitas partes das forças inconcebíveis que operam além da realidade: os Outer Gods. E para os sistemas citados, conjurar uma bola de fogo não é magia, e sim uma forma de manipulação da magia. A magia, para eles, é o todo, o máximo da existência; uma força onipresente que pode ser usada à vontade por aqueles que passam a entendê-la. E disso nós discordamos. Aliás, não “discordamos”, mas sim achamos mais atraente a concepção de Howard e Lovecraft.
Enquanto que no D&D o mago que só conhece "Mãos Flamejantes" só pode fazer esse tipo de magia de fogo, no Daemon, o mago que sabe manipular esse elemento pode fazer qualquer tipo de feitiço relacionado à ele, inclusive efeitos similares às magias “Coluna de Fogo” e “Mãos Flamejantes”, assim como também quaisquer outras baseadas em calor. E é isso que nos faz considerar o D&D como o sistema mais adequado à nossa teoria. A magia para nós, caros amigos, não existe pra ser compreendida². A magia existe para ser aprendida.
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¹ não no sentido de ter sido dada pelos Outer Gods, mas sim de que a descoberta da magia seria o “mínimo” do que poderiam descobrir – uma consolação –, já que a compreensão do que seriam os deuses exteriores seria inconcebível à mentes mortais.
² o que, com tudo o que falamos, seria impossível para meros mortais.

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