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Ainda não há uma previsão de lançamento, mas esperemos que essa data não esteja muito distante!
Continuando com a idéia que eu expliquei na outra postagem, decidi fazer uma miniatura de outro monstro estranho e “disforme”: o estrangulador. Similar ao beholder, este é um monstro com uma forma simples (neste caso, aproximadamente cônico), um único olho, uma boca e tentáculos.
Então, para aqueles que quiserem tentar fazer seu próprio estrangulador, segue a minha receita.
Materiais:
- um pedaço de isopor (do tamanho que você deseja que o estrangulador fique)
- arame
- massa de biscuit (que você mesmo pode fazer se for hábil pra isso, ou então comprar pronto por menos de R$ 10,00 em casas de artesanato)
- cola branca
- tinta acrílica
- verniz acrílico spray
- estilete
- alicate (para cortar o arame)
- pincéis
Como fazer:
A idéia é usar o isopor e o arame para criar um “esqueleto” para o bicho, como foi feito com o beholder. Primeiro de tudo, é necessário esculpir o isopor para dar a forma do corpo do estrangulador. Esse monstro parece uma grande estalactite de 3m. Eu usei um bloco retangular de isopor, e tomando uma miniatura de aventureiro como referência de tamanho, desbastei o bloco até obter um pedaço de isopor de forma cônica do tamanho desejado.
Em seguida, você terá de cortar o arame e moldá-lo no formato dos tentáculos. Eu aconselho dobrar e torcer o arame, para ele ficar mais grosso, antes de moldá-lo. Um estrangulador pode ter até 6 tentáculos, logo foi esse o número que eu usei. Então, espete-os no cone de isopor, onde ficarão os tentáculos. Coloque um pouco de cola branca nos pontos onde o arame espeta o isopor, para manter os tentáculos no lugar, e espere secar.
Após isso, começa a escultura propriamente dita. Determine onde ficará a boca, e faça uma espécie de vala no isopor. Estique a massa de biscuit e comece a recobrir o esqueleto. Cubra o interior da “boca”, o corpo de isopor, e os tentáculos. Eu deixei um pouco mais de massa na extremidade dos tentáculos, e fiz uma espécie de “palma” para dar uma aparência mais bem acabada.
É necessário também recobrir a parte inferior da miniatura, recobrindo totalmente o isopor.
Nesse momento, é possivel esculpir o que você quiser no monstro. O importante é a boca e o olho. Coisas como uma “sobrancelha” e os dentes podem ser esculpidos separado e juntados ao corpo depois, enquanto a massa ainda estiver úmida. Um estilete, palito ou alfinete ajuda a fazer vincos e detalhes, mas se você tiver, pode usar estecas próprias para isso.
O estrangulador, assim como o beholder, está no ról dos monstros tortos e esquisitos, logo, é interessante deixar algumas imperfeições na escultura, para que ele se pareça realmente com uma coluna de pedra. Eu coloquei até mesmo pequenas estalagmites crescendo próximas ao monstro, para dar uma incrementada no bicho.
Note que eu optei por um estrangulador com visual mais “old school”, diferente daquela figura que aparece no Livro dos Monstros do D&D 3.5 e mais próximo das figuras do AD&D. Mas isso fica ao gosto de cada um.
Agora é só esperar secar. Devido ao isopor no centro, pode levar um tempo maior, dependendo do clima, mas em no máximo uma semana estará pronto. Já seco, é só pintar.
Como a massa de biscuit absorve um pouco a tinta, é muito importante fazer uma pintura base (o chamado primer). Eu optei por um primer preto no corpo, e branco no olho e nos dentes.
Primer seco, a pintura final pode começar. Estranguladores disfarçam-se de formações rochosas, então é interessante pintá-lo como tal. Eu escolhi tons acinzentados para o corpo e dentes, mas pintei o olho com o característico tom amarelo, como na descrição da criatura. Depois de pintado e seco, umas duas mãos de verniz para manter a integridade da pintura são bem vindas. O ideal é usar uma ou duas demãos de verniz brilhante, e uma de verniz fosco, para uma aparência mais “real”.
Não é indispensável, mas é possível construir uma base para o estrangulador. Pode-se fazer isso apenas com a própria massa de biscuit, ou com um disco de madeira ou outro material. Eu usei borracha de fazer sola de chinelo (compra-se em casas de sapateiro), pela facilidade de cortar. Nesse caso, apenas colei a miniatura na base, sem mais nenhum preparo especial. Mas, se você quiser, pode preparar uma base mais incrementada. Apenas lembre-se de envernizar a peça só depois de colá-la à base.
O resultado final deve ficar mais ou menos assim:
Caso alguém por aí esteja fazendo seus próprios monstros, eu gostaria muito de ver como ficou!
Um tempo atrás rolou uma breve discussão sobre os clérigos numa comunidade de AD&D do Orkut, e curiosamente a questão sobre a natureza dos clérigos já havia dado pano pra manga em uma discussão com amigos. Frente a tantos “sinais”, não havia como eu deixar de falar aqui sobre o assunto. E o assunto do qual eu quero tratar é a natureza dos clérigos.
No Dungeons & Dragons, o que é um clérigo? As respostas mais comuns costumam ser coisas como “é um padre” ou “é um santo”. No entanto, vamos observar as raízes do D&D e suas versões mais antigas e ver se essa visão se sustenta.
Dizem os boatos que o que viria a se tornar o clérigo do OD&D surgiu na campanha de Dave Arneson como uma nemesis para um personagem vampiro (personagem este chamado Sir Fang). Assim sendo, esse proto-clérigo teria sido inspirado principalmente na personagem Abraham Van Helsing, protagonizado por Peter Cushing nos antigos filmes de horror da produtora Hammer.
Tendo como arquétipo inicial o famoso caçador de vampiros de Drácula, o clérigo tinha como função principal exatamente combater mortos-vivos. Coisa que por sinal os clérigos fazem muito bem, desde os níveis mais básicos, e qualquer um que já precisou utilizar a habilidade de afastar mortos-vivos de um clérigo pode atestar isso.
Já ao ser incorporado ao D&D, o clérigo recebeu de Gary Gygax uma roupagem mais medievalizada, e encarna um papel intermediário entre homem-de-armas e mago (ou melhor falando, entre o fighting man e o magic-user). No OD&D o clérigo era um guerreiro quase tão apto quanto o fighting man (tabela de ataque muito similar, pontos de vida muito próximos, pode usar qualquer armadura, e ainda que só utilize armas contundentes, todas as armas causam o mesmo dano), e ao mesmo tempo podia lançar magias (mas todas as suas magias eram do tipo utilitárias, e não ofensivas, e ainda contavam com as prodigiosas magias de curas), ainda que em quantidade bem menor do que o magic-user.
Com isso, dá pra ver bem que o aspecto bélico do clérigo é bem salientado desde o início. Isso explica sua função mecânica de meio-termo entre mago e guerreiro, mas ainda deixa a desejar sua função arquetípica. O clérigo no OD&D já não é mais apenas um caçador de vampiros que utiliza sua fé como arma. Mas então, o que ele é?
Na descrição da classe no Player's Handbook do AD&D 1ªed, tem-se o seguinte:
“This class of character bears a certain resemblance to religious orders of knighthood of medieval times. (...) The cleric is dedicated to a deity, or deities, and at the same time a skilled combatant at arms.”
Traduzindo:
“Esta classe de personagem guarda uma certa semelhança com certas ordens religiosas de cavaleiros dos tempos medievais. (...) O clérigo dedica-se a uma divindade, ou divindades, e ao mesmo tempo é um combatente habilidoso”
De forma bem similar, o Player's Handbook do AD&D 2ªed, ainda que inclua o clérigo no grupo dos sacerdotes (ou Priests, no original) descreve a classe da seguinte forma:
“The cleric class is similar to certain religious orders of knighthood of the Middle Ages: the Teutonic Knights, the Knights Templars, and Hospitalers. These orders combined military and religious training with a code of protection and service.”
Traduzindo:
“A classe clérigo é similar a certas ordens religiosas de cavalaria da Idade Média: os Cavaleiros Teutônicos, os Cavaleiros Templários, e os Hospitalários. Estas ordens combinavam treinamento militar e religioso com um código de proteção e serviço.”
Por essas descrições, vemos que o clérigo é muito mais um guerreiro de uma ordem monástica do que um sacerdote propriamente dito. Não parece que a intenção de Gary Gygax era simular sacerdotes ao criar a roupagem da classe. Fazendo um paralelo com a Igreja Católica, clérigos seriam Cavaleiros Templários e não padres.