Esta é uma resenha que eu estou devendo já faz um tempão. Não apenas porque o livro em questão foi lançado por volta de novembro do ano passado, mas também porque como não consegui adquirir um exemplar original da caixa básica, um dos autores, Pedro Gil “Steinkel”, muito gentilmente me concedeu uma copia em .PDF do livro de regras para realizar a resenha.
A maior deficiência do jogo é, com certeza, a dificuldade de se conseguir um exemplar aqui no Brasil. Digo isso porque o material é simplesmente fantástico. Originalmente, Aventuras En La Marca Del Este vêm em uma caixa muito bonita, vermelha, e com uma ilustração que faz referência à clássica Red Box do D&D. A caixa contém um livro, um conjunto de 6 dados, um lápis personalizado e uma divisória do mestre de 3 painéis. Como comentei acima, não tive acesso à caixa propriamente dita, então não posso dar mais informações a respeito.
A tampa da caixa de Aventuras En La Marca Del Este.
Quanto ao livro de regras, não tecerei comentários sobre qualidade de encadernação ou impressão, já que tive acesso apenas a um .PDF, então vou direto ao conteúdo.
Com 143 páginas, o livro já abre com um mapa do cenário de campanha, onde fica a dita “Marca Del Este”. Apesar de preto-e-branco, o mapa é impressionante. Muito bem feito, e cheio de nomes simples mas que excitam a imaginação, como “Dunas Piratas”, “Vale Escuro” ou “Praias Sahuagin”.
Visualmente, o livro é incrível. Todas as páginas possuem um acabamento escurecido dando impressão de papel antigo, e além disso, todas as páginas apresentam bordas que são ligeiramente diferentes em cada capítulo, com uma pedra preciosa diferente no pé da página, que identifica cada sessão do livro. As ilustrações, todas em preto-e-branco e que existem em quantidade no livro, são um show à parte. Poucos livros de RPG tem ilustrações tão boas quanto o Aventuras En La Marca Del Este.
O escudo do mestre.
O sistema simula as regras do BD&D, mas com algumas poucas diferenças. Assim, utiliza os três alinhamentos do eixo ordem-caos, padrão clássico do BD&D. Também é utilizado o esquema de raça-como-classe, no entanto são incluídas algumas novas classes somadas às já conhecidas do BD&D.
Desse modo, temos ao total 9 classes: Guerreiro, Clérigo, Ladrão, Mago, Anão, Elfo, Halfling, Paladino e Explorador (uma versão do nosso conhecido ranger). As classes humanas vão até o 20º nível, já as classes não-humanas têm limites de nível bem mais baixos, variando entre 8º e 12 º. Todas as classes, sem exceção, rolam dados de vida apenas até o 9º nível, e a evolução de personagens utiliza como padrão a regra de premiar com XP por tesouro encontrado em aventuras.
Apesar de não haver nenhuma classe realmente inovadora, há várias pequenas diferenças entre as classes do Aventuras e as que conhecemos. Por exemplo, ladrões podem usar qualquer tipo de arma, magos podem usar arcos curtos, e o dízimo que os paladinos precisam doar de seus tesouros encontrados subiu para 20%.
Em relação ao combate há pouquíssimas diferenças em relação ao BD&D. A classe de armadura é decrescente, a rolagens de ataques usam uma tabela de ataque, muito similar ao THAC0. É possível se movimentar até 1/3 do deslocamento total da personagem e realizar um ataque na mesma rodada de combate. Há também uma boa quantidade de “manobras” previstas, como carga e ataque na defensiva, por exemplo. São apresentadas ainda regras para combate debaixo d’água e combate aéreo, tornando o capítulo de combate bem completo. As personagens, sejam PCs, NPCs ou monstros, morrem desmaiam ao chegar aos 0 pontos de vida, mas morrem de verdade apenas aos -3 pontos de vida. As jogadas de proteção utilizadas são as mesmas 5 clássicas do D&D.
As ilustrações são um verdadeiro tesouro.
Curiosamente, no livro há regras completas para aventuras e combates marítimos, o que me leva a crer que este deve ser um tópico razoavelmente comum no cenário da Marca Del Este.
O capítulo de magia não trás nada de muito diferente do esperado. Existem 9 círculos de magia arcana utilizado por magos e elfos, e 7 círculos de magias divinas utilizadas pelos clérigos e em menor grau por paladinos. As magias em si reproduzem a maioria das magias clássicas do D&D.
Há também um capítulo cobrindo de maneira breve todos os detalhes sobre se aventurar, como armadilhas, movimento, iluminação, portas, aventuras ao ar livre, contratação de mercenários, e outros detalhes importantes na condução de uma campanha. O capítulo 7 do livro cobre os tesouros e itens mágicos, com uma boa coleção de itens, e o capítulo 8 trás a descrição de monstros tradicionais do D&D, com muitos deles contando com magníficas ilustrações.
O 9º capítulo introduz o cenário da Marca Del Este, descrevendo uma pequena região deste cenário de campanha: a cidade de Robleda, que fica em uma importante rota comercial e é povoada principalmente por humanos e halflings. De forma bem adequada, uma pequena região que inclui uma cidade para o grupo utilizar como base é descrita, deixando o restante para ser desenvolvido pelo mestre. Uma bela ajuda aos jogadores iniciantes, ou mesmo àqueles que desejam iniciar a desenvolver seu próprio cenário old school. O 10º e último capítulo traz ainda duas aventuras prontas para personagens de 1° a 2° nível, situadas em áreas próximas à cidade de Robleda.
Por fim há uma planilha de personagem em tamanho A4 deitado, que lembra bastante a planilha da famosa “caixa preta” do D&D da Grow.
Enfim, um trabalho de mestre, muito bem feito, e digno de ser chamado de “a caixa vermelha espanhola”. É também possivelmente o mais belo jogo de todo o movimento OSR. Além disso, Aventuras En La Marca Del Este vem recebendo um gigantesco apoio da comunidade rpgista espanhola, com vários suplementos, aventuras e materiais não-oficiais sendo criados o tempo todo.
É uma pena que seja tão difícil comprar essa caixa aqui no Brasil, ou mesmo que não se tenha planos de uma versão traduzida.