Sendo um jogo de fantasia, onde existem magos, deuses e criaturas de outras dimensões, um grande nível de poder é acessível às personagens, tanto dos jogadores quanto do mestre, mas quando se lida com os mais extraordinários desses poderes, uma certa dose de respeito e cautela é necessária (ou ao menos era até o AD&D).
Há espadas mágicas enormemente poderosas, dotadas até mesmo de inteligência própria, mas que também forçam aqueles que as empunham a realizar seus próprios objetivos. Criaturas de imenso poder, como gênios e demônios, podem ser invocados sem grande dificuldade, mas pouco ou nenhum controle real sobre eles é garantido, sendo necessário negociar com tais criaturas de motivações alienígenas. Poderosas criaturas elementais podem ser convocadas para lutar pelo conjurador, mas um lapso de concentração e o comando de tais criaturas é perdido, fazendo-as se voltar contra aquele que as invocou. Literalmente qualquer coisa pode ser realizada com a magia Desejo, mas o pedido deve ser formulado com cuidado, ou então as forças cósmicas que atuam por trás da magia (ou seja, o mestre) irão distorcer suas intenções ao mesmo tempo que lhe dão exatamente o que foi pedido.
Muito provavelmente essas limitações foram criadas para combater o “power gaming”, nossas tão conhecidas apelações, que já devia ser praticado pelos wargamers que fundaram o RPG. Mas o fato é que esta é uma solução bastante elegante para resolver um problema basicamente de regras, evitando que magias e itens mágicos muito poderosos desequilibrem o jogo.
Interessante também é como essas limitações não são simplesmente inventadas para “prejudicar” os jogadores, mas ao contrário, são fortemente influenciadas pela mitologia, literatura e pela cultura popular. Os contos das Mil e Uma Noites estão cheios de exemplos dessa natureza; Stormbringer, a poderosa espada mágica de Elric de Melniboné, muitas vezes força aquele que a empunha a um frenesi de matança; e todo mundo “sabe” que um pacto com um demônio ou outra criatura extraplanar capaz de realizar seus desejos sempre tem um porém.
Eu gosto bastante dessa forma de manter um certo controle sobre o poder disponível na mesa de jogo. Muito melhor do que apenas dizer “isso não pode” ou “tal coisa está proibida”, é deixar que os jogadores tenham acesso, e permitir que eles lidem com os riscos envolvidos no processo. Além de controlar o abuso de poder, serve também para os jogadores aprenderem que há consequências para os atos de suas personagens, principalmente quando esses atos envolvem forças muito além do poder humano normal. Afinal, grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades, já dizia o Tio Ben.