Campanha de Lobisomem Idade das Trevas. A campanha já estava em andamento a algumas sessões, quando eu entro meio de paraquedas. Primeira sessão que eu jogaria com eles. Grupo imenso (umas 16 pessoas), dos quais eu só conhecia o narrador e mais uns 2.
A matilha era composta exclusivamente de Presas de Prata e Crias de Fenris, todos guerreiros poderosos, nobres e orgulhosos. Eu montei um Roedor dos Ossos impuro, sarnento, pulguento, sem matilha e que roubava para viver. Óbvio que quando eu encontro o grupo por acaso na estrada, eles recusam que eu me juntasse à matilha deles, apesar de permitir que eu os seguisse à distância.
Chegamos a uma cidade no fim da tarde, todos vão para a taverna local comer e beber... menos meu personagem, cujo Presas de Prata líder da matilha proibiu de ficar no mesmo recinto que ele. Todos pedem suas refeições, se refastelam, e então se dão conta de algo muito importante: ninguém tem dinheiro algum para pagar a conta. A solução que eles encontram é simples: ninguém para de comer e beber até pensarem em um jeito de escapar daquela situação sem precisar revelar sua verdadeira natureza. Isso se estende por horas, o suficiente para que meu personagem, olhando pela janela do lado de fora, percebesse o que estava acontecendo.
Eis que, já a noite, chega à cidade a carroça de coleta de impostos do reino. O coletor de impostos e seus guardas estacionam o veículo num local apropriado, trancam tudo e dirigem-se à taverna para descansar. Will (era esse o nome do Roedor de Ossos) não pensa duas vezes e se dirige até a carroça assim que surge uma oportunidade. Um verdadeiro cofre sobre rodas, mas isso não impediria um malandro profissional como ele. Em uma missão solo digna do Tom Cruise em Missão Impossível, o ladrão arromba as fechaduras da porta da carroça, começa a investigar seu interior e encontra algumas coisas de interesse: um belo par de botas de couro novas (e que viriam a ser a posse mais importante do meu personagem), algumas garrafas de vinho de boa qualidade, e um cofre. Enquanto tenta arrombar o cofre, um dos guardas retorna, e desconfiado de ter ouvido algo decide verificar a carroça. Por sorte, eu havia me lembrado de trancar a carroça novamente!
Mesmo assim, ele abre a porta e entra para ver. Mais que depressa, Will sobe numa prateleira na lateral da carroça, quase no teto (por sorte ele era pequeno), e usando um dom de lobisomem, consegue passar despercebido. O guarda sai e tranca a porta novamente, mas fica ali de guarda. Will respira aliviado, e volta a tentar arrombar o cofre, desta vez com sucesso (e tomando muito cuidado pra não fazer barulho). Mas o perigo vale à pena: centenas de moedas de ouro! Will pega tudo o que pode carregar, e espera pacientemente até o guarda precisar se ausentar (todo mundo precisa ir ao banheiro um dia).
Saindo da carroça (Sem esquecer-se de trancar tudo novamente para que demorem a desconfiar de algo), Will se dirige direto à taverna. Já é final da madrugada, ninguém mais sabe como enrolar o taverneiro. Ao vê-lo, o líder da matilha furiosamente se dirige a ele, perguntando “Eu não ordenei que você ficasse lá fora? Ousa me desafiar?”. Will humildemente se curva e diz “Perdão, meu senhor. Apenas me lembrei de que eu havia ficado guardando seu dinheiro, e que talvez o senhor fosse precisar dele para pagar a taverna.”. E então bota um punhado de moedas de ouro sobre a mesa. O líder da matilha, completamente desconcertado, pega o ouro. “Obrigado, bem lembrando. Agora peça algo para comer ao taverneiro e saia daqui logo.” diz o orgulhoso Presa de Prata – mas com nós dois sabendo quem estava sendo benevolente com quem.
Os jogadores vieram à loucura devido à tensão da cena como um todo e da forma como meu personagem lidou com o orgulhoso líder da matilha. Ele mostrou muito bem à que veio já na primeira sessão. Só sei que depois desse dia, ainda que oficialmente meu personagem nunca viesse a se juntar à matilha, nunca mais ele foi tratado como menos que um membro importante do grupo.
Muito bom!
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